Quem já viu um macaco em vida livre, na natureza, tem essa cena gravada na sua memória. Macacos (ou primatas não-humanos), são animais incríveis, não só pela sua beleza, ou pelos saltos majestosos mas, também, pela forma como eles interagem dentro dos seus bandos. É quase impossível não fazermos uma comparação direta com os humanos.
Mas, diferente dos humanos, estes primatas da natureza estão entre as espécies mais sensíveis às alterações ambientais. A fragmentação e substituição de florestas por paisagens antrópicas estão entre as principais causas de extinção. Na verdade, esses animais têm uma estreita relação com as árvores, e onde não tem árvores eles também não estão. Não é a toa que os primatas são o grupo de mamíferos com maior número de espécies ameaçadas no Brasil – eles correspondem a mais de 31% (35 espécies) do total de espécies em ameaça de extinção (ICMBIO 2018).
Com suas extensas florestas e savanas arborizadas, o Brasil é reconhecido como o país dos macacos. Existem aqui, 139 espécies de primatas. Nenhum outro país concentra uma diversidade de primatas como o nosso. Sem dúvida, a vasta Amazônia brasileira concentra a maior parte das espécies, que vivem entre as copas de gigantes árvores.
Mas você já parou para pensar como é realizado o trabalho dos chamados primatólogos – pesquisadores que estudam os macacos? Tenha certeza de uma coisa, não é tarefa fácil, e estes pesquisadores merecem todo o nosso respeito. Estudos com a fauna, de modo geral, não são atividades como mostram os programas de TV, tem muito suor, lama, choro, mas tudo isso é recompensado no momento que se consegue encontrar a sua espécie-alvo.
O primeiro passo é encontrar estes animais em seu ambiente natural, sair andando em trilhas até encontrar seu alvo. A partir daí, os pesquisadores têm que acompanhar o bando para conseguir coletar as informações que estão buscando, como: quantos km se deslocam, o que comem, quanto tempo passam fazendo cada atividade, quais interações entre os indivíduos, defesa de território e várias outras questões, que dependem da finalidade da pesquisa.
Macacos vivem nas árvores, se deslocam com uma agilidade que poucos animais apresentam, conseguem transpor rios, vales e outras adversidade do terreno, simplesmente pulando de uma árvore para outra. Agora, imagina você, um pesquisador, ANDANDO, no chão da floresta, seguindo um bando de macacos que estão a 15 metros do chão. Importante frisar que não existem estradas ou mesmo trilhas, nossos pesquisadores tem que ir, literalmente, abrindo o mato no peito para não perder os macaquinhos de vista.
Passada essa atividade de pega-pega, e para manter a continuidade diária de coletada de dados de forma mais eficiente, é importante que os pesquisadores estejam com o bando até a hora que eles se ajeitem para dormir. Assim, os profissionais conseguem ir ao ponto exato ou região onde o bando está. Ou seja, você dorme e acorda com os macacos.
Um aspecto importante nesse acompanhamento diário é o pesquisador ser aceito pelo bando ou deixar de ser visto como uma ameaça. Esse processo foi muito bem estabelecido e divulgado nos trabalhos com os gorilas e chimpanzés na África, onde o bando permite a aproximação do guia e dos turistas. Essa atividade certamente tem uma série de regras e protocolos para que essa confiança não seja quebrada. De forma similar, acontece com nossos primatas aqui no Brasil. Com o tempo, o bando passa a aceitar a presença do pesquisador, facilitando a tomada de dados.
Existem ainda outras etapas e atividades relacionadas ao trabalho de campo com primatas que não mencionamos aqui. O importante é trazer um pouco do que acontece nos bastidores da floresta antes que fotos e atividades de conservação cheguem ao conhecimento de todos. Precisamos fortalecer nossas atividades de pesquisa, e os primatas da natureza, sem dúvida, precisam do nosso apoio para conseguir sobreviver ao avanço do seu irmão primata humano.
Texto: Maurício Forlani – Gerente de Pesquisa da AMPARA Silvestre.