Espécies Invasoras: vendendo uma ameaça

Filhote de sagui como pet

O ser humano, ao longo de sua história de colonização do mundo, ao avançar sobre novos territórios, carregou espécies animais e vegetais – seja de forma proposital ou acidental.

Com o avanço das tecnologias desenvolvidas pelo homem, a movimentação de espécies passou a ser maior e barreiras que delimitaram e moldaram espécies por milhares de anos foram facilmente quebradas. Essa movimentação gerou o que chamamos de “espécies invasoras” ou “espécies introduzidas”, que são organismos não-nativos de uma área específica.

Hoje, com todo o globo dominado pelo homem, continuamos criando espécies invasoras e, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), elas são consideradas uma das principais ameaças à vida selvagem nativa. Pela ausência de inimigos naturais, as espécies invasoras desenvolvem vantagens competitivas e se proliferam sem controle trazendo riscos às espécies nativas, ao meio ambiente e ao homem.

Os ecossistemas e a fauna brasileira vêm sofrendo nos últimos anos com uma série de impactos decorrentes da invasão de espécies e, em alguns casos, a forma de introdução é mais complexa de ser evitada, como algumas espécies marinhas – a exemplo do peixe-leão e o coral-sol. Já o javali e a rã-touro foram introduzidos em decorrência da comercialização destes animais para consumo humano.

A influência do mercado Pet

Mas o mercado que mais preocupa em relação à invasão de espécies é o comércio de animais silvestres com finalidade de estimação. O mercado Pet pode acelerar a disseminação de espécies invasoras em todo o mundo, pois animais são soltos por seus donos ou escapam com frequência. O comércio de animais de estimação cria apenas oportunidades de invasões, mas favorece espécies com potencial invasor. Ao menos 13% das espécies comercializadas no mercado Pet são invasoras em alguma parte do mundo.

O Brasil, com seus 6 biomas e sua grande biodiversidade, é um prato cheio para a ocorrência de espécies invasoras, mesmo estas sendo nativas. Esse é o caso do sagui-de-tufo-preto (Callithrix penicillata), nativo do cerrado, e do sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus), com origem no nordeste brasileiro. Ambos foram e são traficados em grandes números desde a década de 80. Hoje, estas espécies não somente povoam as cidades do sudeste mas, também, saguis adquiridos como animais de estimação foram abandonados nas matas próximas aos grandes centros urbanos, onde se multiplicaram e resultou na sua introdução na Mata Atlântica.

Mas o que dois macaquinhos poderiam trazer de prejuízo? Bom, eles ajudaram a impactar ainda mais duas espécies de sagui da Mata Atlântica, que já sofriam com a perda de habitat, o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) e o sagui-da-serra (Callithrix flaviceps). Além das espécies invasoras serem menos sensíveis a alteração do ambiente, o que amplia sua capacidade de ocupar o espaço das nativas, elas passaram a cruzar com as espécies da Mata Atlântica. Esse cruzamento genético tem chamado a atenção de conservacionistas e hoje o sagui-da-serra-escuro é considerado uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo.

Hoje o comércio de animais silvestres no Brasil movimenta milhares de aves exóticas que são uma constante ameaça, seja na competição com a fauna nativa ou na disseminação de doenças. Registros de espécies exóticas voando soltas já são uma realidade, embora populações não tenham se estabelecido.

Ring neck, espécie de ave exótica comercializada para o mercado pet

Com a política de ampliação do mercado Pet e a publicação de listas Pet estaduais, o Brasil vem ampliando os riscos de geração de espécies invasoras, sejam estas nativas ou exóticas. Hoje, já se pode encontrar legalmente à venda espécies invasoras em outros países, como a serpente piton. Alguns países como Austrália e o estado da Flórida, nos EUA, estão com políticas duras visando fechar o comércio de espécies exóticas (oriundas de outros países), pois sabem e já sofreram as consequências devastadoras deste mercado.

O comércio de espécies silvestres tem se mostrado com frequência um grande caminho para a introdução de espécies invasoras, além de se tornar um importante fator de extração de populações selvagens. Por isso, não podemos colocar nossa biodiversidade em risco, visando um mercado que explora os animais para suprir a demanda egoísta de se ter um animal preso, longe de seu habitat. Nossa fauna já vem sofrendo ameaças constantes, fogo, desmatamento, cidades e estradas. Não precisamos criar ou incentivar mais uma pressão.

Animal selvagem, seja nativo ou exótico, não é Pet.

 

 

Instituto Ampara

A AMPARA nasce em agosto de 2010, pela coragem de Juliana Camargo e Marcele Becker em tirar diversos animais da situação de rua. Em 5 anos de trabalho pesado, a AMPARA consegue se tornar a maior OSCIP de proteção animal do Brasil, com o maior número de animais amparados.

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