Mantenedores e criadouros conservacionistas têm um papel potencialmente relevante na conservação de espécies silvestres, além de contribuírem para a ciência e a medicina veterinária de animais selvagens. No entanto, independentemente do tipo, esses espaços (cativeiro) deveriam sempre priorizar o bem-estar animal e seguir princípios éticos rigorosos.
Conforme a resolução 489/2018 do Conama, esses estabelecimentos de fauna já não podem expor os animais ao público. Essa medida busca assegurar a qualidade de vida dos indivíduos em cativeiro e manter o foco na real missão desses espaços. Então, por que a lei ainda permite interações entre pessoas e animais cativos e sua divulgação em redes sociais?
Os riscos da exposição e interação com animais silvestres em cativeiro
Primeiramente, o próprio contato com humanos é, muitas vezes, nocivo à saúde do animal. Estresse, contenção de comportamentos naturais e até mesmo a exposição ao risco de transmissão de doenças zoonóticas são alguns dos principais pontos.
Além disso, a exposição de interações com animais silvestres e pessoas, como segurá-los no colo ou acariciá-los, transmite a ideia perigosa de que eles poderiam ser “pets”. A admiração que muitos têm por animais selvagens, como felinos silvestres ou araras coloridas, faz com que este pensamento problemático seja validado ao ver que esse contato existe, ainda que em um contexto específico. Esse tipo de exposição incentiva direta ou indiretamente o tráfico de animais silvestres e a ampliação da Lista Pet (lista autorizada pelo órgão público responsável, de espécies silvestres comercializadas por criadores comerciais legalizados), outro grande problema, que cabe um texto inteiro sobre! Esta relação entre a exposição de animais silvestres e humanos interagindo e sua influência no aumento do tráfico de animais está bem descrita na campanha Algoritmo Selvagem Reset.
Imagem – Prints de comentários em vídeo postado no Instagram que mostra uma pessoa interagindo com onças-pintadas (em um empreendimento de fauna autorizado).
Tratar animais selvagens como se fossem domesticados, explorando-os em conteúdos midiáticos principalmente para fins de arrecadação financeira, desvirtua os princípios éticos dos empreendimentos de fauna, distorce os comportamentos naturais das espécies expostas e banaliza esses animais. A comercialização e exploração de sua imagem fogem completamente da finalidade conservacionista ou de bem-estar animal desses empreendimentos.
Outro fator relevante: quanto menor a interação entre animais silvestres e humanos, maior a chance de sucesso em projetos de reintrodução à natureza. Animais que estão em processo de reabilitação ou que participam de programas de conservação têm sua liberdade futura ameaçada ao serem expostos ao contato humano.
A responsabilidade bioética no manejo de animais silvestres
É crucial lembrar que animais silvestres passaram por processos evolutivos completamente diferentes de animais domésticos. Muitas vezes, para que tolerem a presença humana, tratadores condicionam e reprimem comportamentos naturais dos animais, o que gera sofrimento. Esses indivíduos, por já terem sofrido com as interferências humanas, estão impossibilitados de retornar ao seu habitat e cumprir seus papéis ecológicos. O mínimo que devemos fazer é respeitar suas características naturais, garantindo um cuidado ético.
Cuidar e proteger animais silvestres em cativeiro exige uma responsabilidade profunda. Eles já perderam sua liberdade e, por isso, precisamos respeitar sua integridade e natureza e garantir que não impactemos ainda mais suas espécies.
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