Recentemente, enchentes históricas assolaram o Rio Grande do Sul, causando devastação inimaginável. Casas foram destruídas, muitas vidas perdidas, e a comunidade local está tentando se reerguer. Entre as vítimas desta catástrofe, não podemos esquecer dos inúmeros animais que também sofreram as consequências brutais das águas. Além de cães e gatos, centenas de animais silvestres e “pets não-convencionais” presos em gaiolas, como aves, répteis e roedores, perderam suas vidas de maneira trágica, tanto em residências, quanto em petshops. Este cenário desolador nos obriga a refletir criticamente sobre a prática da venda e posse de animais silvestres/exóticos mantidos em cativeiro.
Independente das enchentes, é um desastre moral
Primeiramente, a manutenção de animais em gaiolas é uma prática que ignora as necessidades naturais e comportamentais desses seres. Animais silvestres/exóticos comercializados são submetidos a um sistema de criação intensivo. Muitas vezes está associada a maus-tratos e sem cuidados com necessidades básicas para o bem-estar animal. Gaiolas infelizmente são entendidas como “um lar seguro”, é, na realidade, uma prisão que limita severamente a capacidade desses animais de exercerem seus comportamentos instintivos.
As enchentes recentes evidenciaram ainda mais a fragilidade dessa situação. Animais que nem deveriam estar em residências ou lojas, estavam aprisionados, sem nenhuma chance de sobrevivência quando as águas subiram rapidamente. Essa tragédia não é apenas um desastre natural, mas também um desastre moral que revela a crueldade implícita na prática de comercializar e possuir animais silvestres e exóticos.
Outros problemas relacionados à exposição e comercialização de animais silvestres e “pets exóticos”
Além das questões éticas, há uma série de preocupações práticas. A comercialização e posse de animais silvestres incentivam um mercado que frequentemente opera à margem da legalidade. Dessa forma, contribui para o tráfico de espécies, a distorção de noções de bem-estar animal, a introdução de espécies invasoras e doenças, colocando em risco a toda a biodiversidade brasileira.
Conforme, os petshops frequentemente não possuem as condições adequadas para abrigar diferentes espécies. Essas lojas muitas vezes expõem os animais em grande quantidade de indivíduos em pequenos espaços confinados, em constante perturbação de público, iluminação artificial e condições muito distantes da ideal para sua saúde e bem-estar. Durante as enchentes, muitos desses locais foram inundados, deixando os animais em um estado de vulnerabilidade extrema, à mercê da morte. Dessa forma, essa situação reforça a necessidade urgente de revisarmos e reformarmos nossas práticas em relação à exposição, venda e posse de animais silvestres e “pets exóticos”.
Portanto, a tragédia das enchentes deve servir como um chamado à ação. Precisamos, assim, adotar políticas mais rigorosas que proíbam a exposição e a venda de animais em petshops e desencorajem a posse desses animais em cativeiro. Precisamos promover a conscientização pública sobre as consequências éticas e práticas da normalização de animais não-domesticados como pets e incentivar a proteção dos habitats naturais, onde esses animais pertencem.
Dessa forma, somente através de uma mudança de paradigma, que reconheça e respeite o direito dos animais silvestres de viverem livres em seu ambiente natural, poderemos evitar que tragédias façam tantas vítimas inocentes. É uma questão de justiça, empatia e responsabilidade ambiental. As vidas perdidas nas enchentes nos lembram da urgência de agir agora para garantir um futuro mais justo e compassivo para todos os seres vivos.
Entenda também as ameaças que o próprio comércio de animais oferece para toda a biodiversidade no nosso blog.
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