Como o turista pode ser aliado da conservação e bem-estar animal?

Arara-canindé
Tempo de leitura: 4 minutos

Em tempos de redes sociais e experiências “instagramáveis”, o turismo de natureza cresceu e se tornou um dos segmentos mais procurados no Brasil. Mas será que todo passeio em área natural pode ser chamado de ecoturismo? E mais: será que o desejo de se aproximar da vida selvagem tem sido conduzido com ética, respeito e responsabilidade?

A campanha Turista que Transforma nasce para lembrar que o ecoturismo, quando bem praticado, pode ser um poderoso instrumento de conservação da biodiversidade e valorização das comunidades locais. Mas também pode se tornar uma ferramenta de exploração animal e degradação ambiental quando feito sem critérios. Nesse cenário, o turista é protagonista: suas escolhas moldam o mercado, pressionam práticas e constroem, ou destroem, o futuro da conservação no Brasil.

Papel fundamental do ecoturismo

Em primeiro lugar, o ecoturismo desempenha um papel fundamental na conservação da biodiversidade e no fortalecimento das comunidades locais.

No Pantanal mato-grossense, por exemplo, o turismo de observação de onças-pintadas tem se mostrado uma estratégia eficaz para promover a coexistência entre humanos e esses grandes felinos. Ao atribuir valor econômico à presença das onças vivas, essa prática contribui para desestimular a caça e incentivar a proteção de seu habitat natural. Dessa forma, estudos indicam que o turismo de felinos de grande porte pode proporcionar benefícios econômicos significativos às comunidades locais, criando meios de subsistência e elevando os padrões de vida. Leia mais aqui.

Mas o que é, de fato, ecoturismo ético?

Diferente de qualquer atividade turística em ambientes naturais, ecoturismo ético é aquele que promove uma experiência educativa, respeitosa e sustentável. Assim, ele considera o bem-estar dos animais, o equilíbrio dos ecossistemas e o envolvimento justo das comunidades locais. Não basta estar em um lugar bonito; é preciso se perguntar em “como estar” nesses ambientes.

O ecoturismo ético:

  • Não interfere na rotina dos animais silvestres;
  • Não estimula interações forçadas, como toques, selfies ou alimentação;
  • Valoriza guias e condutores capacitados, que atuam com conhecimento técnico e sensibilidade ambiental;
  • Gera renda para comunidades locais, respeitando saberes e práticas tradicionais;
  • Estimula a preservação do lugar visitado, não a sua degradação.

E quando não é ético?

Infelizmente, não é raro encontrar “atrações” que expõem animais silvestres ao estresse, à domesticação forçada e ao confinamento. O problema é que, muitas vezes, essas práticas são vendidas como “ecoturismo”, aproveitando-se da ausência de fiscalização e da desinformação do público. Portanto, é aí que o papel do turista se torna fundamental.

Além disso, o turismo irresponsável alimenta diretamente a retirada ilegal de animais da natureza. Muitos filhotes são capturados para abastecer atividades turísticas ou coleções particulares, separando-os de seus grupos e causando desequilíbrios ecológicos. Para que esses animais se tornem “mansos” ou “fotogênicos”, são frequentemente submetidos a técnicas de condicionamento, privação de comportamentos naturais e ambientes inadequados, comprometendo gravemente seu bem-estar físico e psicológico.

E é importante lembrar: o sofrimento animal não acontece apenas nos momentos de exposição. Fora dos holofotes, muitos desses animais permanecem confinados em espaços minúsculos, sem estímulo ambiental, sozinhos ou com contato humano constante e forçado. Sem a possibilidade de expressar seus comportamentos naturais, vivem em constante frustração e angústia — algo que dificilmente aparece nas fotos vendidas como “experiência única”.

Conteúdos publicados nas redes sociais — como selfies com animais selvagens, vídeos de interações forçadas ou imagens que os humanizam — também têm impacto negativo. Dessa forma, embora possam parecer inofensivos, esses registros ajudam a naturalizar e romantizar o contato direto, despertando o desejo de posse e estimulando, ainda que indiretamente, a compra e o tráfico de animais silvestres. Ao invés de promover a conservação, reforçam uma lógica exploratória que compromete vidas e ecossistemas. Criamos uma campanha especialmente para expor esta realidade, conheça a campanha #AlgoritmoSelvagem.

Imagem: animal claramente com sinais de estresse e maus-tratos, exposto em ambiente turístico para fotos.

O turista molda o que é aceitável — e pode transformar realidades

A escolha de um turista tem poder. É ele quem movimenta economias locais, fortalece (ou enfraquece) práticas sustentáveis e sinaliza para o mercado o que é, ou não, bem-visto socialmente. Onde falta fiscalização, sobra espaço para a ética do visitante.

Ser um turista que transforma é:

  • Questionar práticas que envolvam exploração animal, mesmo que “tradicionais”;
  • Conversar com o guia, com a hospedagem e com a agência sobre condutas éticas;
  • Deixar claro, com educação, sua insatisfação diante de atividades que promovam sofrimento ou risco para a fauna;
  • Valorizar iniciativas que priorizem o bem-estar animal e a conservação do ambiente;
  • Denunciar irregularidades a órgãos ambientais ou canais de fiscalização.

Um passo a passo para o ecoturismo responsável:

1. Pesquise antes de viajar
Verifique se a empresa ou local tem histórico de boas práticas. Busque referências de guias credenciados e comprometidos com a conservação.

2. Desconfie de interações diretas com animais
Se o passeio promete tocar, alimentar ou tirar fotos com animais silvestres soltos ou cativos, é sinal de alerta.

3. Priorize a observação respeitosa
Binóculos e silêncio são grandes aliados. Observar a natureza sem interferir é uma experiência transformadora e mais enriquecedora.

4. Converse e questione
Fale com guias e operadores. Pergunte sobre os impactos das atividades. Mostre que você valoriza práticas éticas e sustentáveis.

5. Diga não a maus-tratos e denuncie
Outros turistas, guias, pousadas, quem for: denuncie pelos meios corretos e faça a diferença para os animais! Não seja conivente com a crueldade! Fotografias, registros e relatos podem ser enviados a órgãos ambientais estaduais, ao Ibama ou ao Ministério Público. Em abril, preparamos um guia prático que traz os diferentes meios para realizar denúncias! Confira aqui!

6. Valorize o que respeita
Compartilhe nas redes sociais experiências que protegem a fauna, preservam o ambiente e valorizam as comunidades. Isso também influencia outros turistas.

Turista, você é essencial!

A biodiversidade brasileira é um patrimônio de valor incalculável — mas é também extremamente vulnerável. E ela precisa de aliados. Turistas que não apenas viajam, mas que se posicionam, escolhem com consciência e influenciam mudanças.

O ecoturismo ético só se fortalece com a participação ativa de quem está na ponta da experiência: o turista. Quando ele exige respeito, os bastidores mudam. Quando ele diz não à exploração, o mercado se adapta.

Portanto, ser um turista que transforma é ser parte da solução. É entender que, no fim das contas, o verdadeiro privilégio não é tocar a natureza — é saber que ela pode continuar existindo livre e protegida.

Instituto Ampara

A AMPARA nasce em agosto de 2010, pela coragem de Juliana Camargo e Marcele Becker em tirar diversos animais da situação de rua. Em 5 anos de trabalho pesado, a AMPARA consegue se tornar a maior OSCIP de proteção animal do Brasil, com o maior número de animais amparados.

Você também pode gostar:

Se inscreva na nossa newsletter!

O Instituto Ampara Animal é uma OSCIP sem fins lucrativos. Somos protetores de animais abandonados e vítimas de maus-tratos. Lutamos para que os mais de 30 milhões de animais de rua tenham uma vida com respeito e amor.

© 2025 | Instituto Ampara Animal. Todos os direitos reservados.