O que as mudanças climáticas tem a ver com a conservação?

Onça-pintada em cenário de queimada no Pantanal
Tempo de leitura: 4 minutos

As mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade estão intrinsecamente ligadas, uma vez que o aumento das temperaturas globais e eventos climáticos extremos afetam diretamente os ecossistemas e as espécies que neles habitam. Estamos enfrentando mudanças bruscas e eventos climáticos extremos com maior frequência e isso implica também na urgência de medidas de prevenção e mitigação de riscos, assim como maios apoio para projetos de conservação e desenvolvimento científico, para buscar maior proteção das espécies brasileiras. O cenário é desafiador.

Em 2024, Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou que a a temperatura média global atingiu 15,10°C, representando um aumento de 1,55°C em relação aos níveis médios de 1850-1900 e se tornando o ano mais quente já registrado. Os últimos dez anos estão todos entre os dez mais quentes, em uma série extraordinária de temperaturas recordes.

Além disso, estudos indicam que a tendência de temperaturas globais acima de 1,5°C deve se prolongar nas próximas décadas, tornando-se uma nova norma climática. Esse cenário está levando a mudanças significativas nos padrões climáticos, afetando a distribuição e sobrevivência de inúmeras espécies.

A relação entre mudanças climáticas e biodiversidade

As alterações climáticas afetam a biodiversidade de diversas maneiras:

  • Mais incêndios florestais: Com o aumento das temperaturas e a falta de chuva, os incêndios florestais se tornam mais frequentes e intensos. O fogo destrói habitats, mata animais e deixa sobreviventes sem alimento e abrigo.
  • Calor extremo e metabolismo: Os animais possuem uma faixa de temperatura ideal para seu metabolismo. Com o calor excessivo, muitos não conseguem se adaptar, sofrendo estresse térmico e até a morte. Mamíferos e aves gastam mais energia para se resfriar, o que pode ser fatal.
  • Menos água e comida disponível: A seca reduz rios, lagos e nascentes, dificultando a sobrevivência de anfíbios, peixes e outros animais. Além disso, a queda na produção de frutos e sementes ameaça toda a cadeia trófica.
  • Doenças e parasitas se espalham mais rápido: Temperaturas mais altas favorecem a proliferação de mosquitos e carrapatos, aumentando a transmissão de doenças entre animais silvestres e até para humanos.
  • Desequilíbrio ecológico: Espécies mais resistentes ao calor podem se proliferar rapidamente, enquanto outras entram em declínio. Isso altera cadeias alimentares e prejudica o equilíbrio dos ecossistemas.
  • Reprodução afetada: O estresse térmico pode reduzir a fertilidade, alterar períodos reprodutivos e até modificar padrões migratórios, comprometendo populações inteiras.

Impactos no Brasil: desastres naturais e perda de biodiversidade

O Brasil tem vivenciado eventos climáticos extremos que ilustram os efeitos das mudanças climáticas na biodiversidade:

  • Desastre no Rio Grande do Sul: Em 2024, o estado enfrentou chuvas devastadoras que causaram enchentes históricas, resultando na morte de mais de 100 pessoas e deixando milhares de pessoas e animais desabrigados. Essas enchentes impactaram habitats naturais, levando à perda de espécimes locais, deslocamento de animais e à degradação dos ecossistemas.
  • Queimadas no Pantanal e na Amazônia: A seca extrema no Pantanal impulsionou o aumento de focos de incêndio, registrando o pior índice para um primeiro semestre desde 1988. Na Amazônia, as queimadas se intensificaram, ameaçando a fauna e flora únicas dessas regiões e contribuindo para a emissão de gases de efeito estufa, sendo o pior registro em 13 anos. No Pantanal, 2024 apresentou o segundo maior número de focos ativos (14.498), ficando somente atrás de 2020, quando o bioma queimou 1/3 de sua área (dados retirados do Terrabrasilis, INPE).
  • Seca histórica na Amazônia: Do mesmo modo, a Amazônia também enfrentou uma das piores secas de sua história, com rios atingindo níveis mínimos recordes. O Rio Negro, em Manaus, chegou à marca de apenas 13,59 metros em outubro de 2023, o nível mais baixo já registrado. Essa crise hídrica comprometeu a fauna aquática, dificultando a sobrevivência de espécies dependentes dos rios e afetando populações ribeirinhas.

Qual o caminho? Existem soluções para a crise climática?

A Base de Atendimento Ampara Pantanal e a necessidade de projetos de conservação

O Pantanal sofreu seus piores incêndios em 2020, quando um terço do bioma foi devastado, resultando na morte de milhões de animais. Apesar da gravidade da situação, ações voltadas para prevenção e mitigação de riscos não foram implementadas de forma eficaz nos anos seguintes. Em 2024, o Pantanal voltou a enfrentar um cenário crítico, mas a chegada das chuvas evitou um desastre ainda maior. Essa dependência de fatores climáticos imprevisíveis é preocupante e evidencia a necessidade de mudanças estruturais na forma como o bioma é protegido.

Diante dessa realidade, o Instituto Ampara Animal construiu a Base de Atendimento Ampara Pantanal (BAAP), para auxiliar uma necessidade urgente de atendimento e reabilitação da fauna afetada pelos incêndios. Construída após os eventos de 2020, a base é atualmente o único centro de atendimento e reabilitação especializado para a fauna silvestre no Pantanal Norte. Seu papel é fundamental na recuperação de animais feridos por queimadas e outros impactos ambientais, mas representa apenas uma entre tantas ações necessárias para garantir a preservação do bioma. Projetos de conservação como esse são essenciais para reduzir a vulnerabilidade da fauna e mitigar os danos causados pelas mudanças climáticas e pela ação humana.

Médica veterinária da Base de Atendimento Ampara Pantanal realizando manejo de uma anta resgatada com as patas queimadas em 2024.

Imagem: Médica veterinária da Base de Atendimento Ampara Pantanal realizando manejo de uma anta resgatada com as patas queimadas em 2024. Acervo Instituto Ampara Animal.

Em conclusão, a principal causa das mudanças climáticas é a ação humana e precisamos ser também a solução

Em conclusão, a principal causa das mudanças climáticas é a ação humana, especialmente a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a agropecuária intensiva. Dessa forma, para mitigar esses impactos, é essencial investir em energia limpa e renovável, promover a conservação florestal, reduzir o desperdício de recursos e adotar práticas sustentáveis na agricultura e na indústria. Além disso, a educação ambiental e a pressão por políticas públicas eficazes são fundamentais para frear o avanço da crise climática e proteger a biodiversidade do planeta.

A conservação da biodiversidade é essencial para a saúde do planeta e para o bem-estar humano. Portanto, as mudanças climáticas representam uma ameaça significativa a essa biodiversidade, exigindo ações urgentes para mitigar seus efeitos e proteger os ecossistemas. Políticas públicas eficazes, aliadas à conscientização e participação da sociedade, são fundamentais para enfrentar esse desafio global.

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A AMPARA nasce em agosto de 2010, pela coragem de Juliana Camargo e Marcele Becker em tirar diversos animais da situação de rua. Em 5 anos de trabalho pesado, a AMPARA consegue se tornar a maior OSCIP de proteção animal do Brasil, com o maior número de animais amparados.

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