Há muitas décadas, os serviços de saúde em todo o mundo têm alertado sobre os altos índices de suicídios entre veterinários. A seguir, apresentamos alguns dados e fatores que explicam a situação alarmante dessa questão.
Dados alarmantes sobre suicídios entre veterinários
Nos EUA, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) concluiu, após pesquisa com 11.629 veterinários, que veterinários do sexo masculino tinham o dobro de chances de se matar em comparação à população geral, e as veterinárias mulheres, 3,5 vezes mais chances.
Em 2022, a ONG australiana Love Your Pet, Love Your Vet também alertou sobre a crise, revelando que a taxa de suicídio entre veterinários era quatro vezes mais alta do que a média no país. Além disso, 78% dos tutores australianos desconheciam essa questão.
Outro estudo, conduzido pela VetsSurvey e publicado em 2021, concluiu que Portugal é o país com o maior nível de estresse na área veterinária, afetando cerca de 87% dos profissionais. A Argentina, com 79%, o Brasil (74%), os Estados Unidos (71%) e o Reino Unido (70%) aparecem logo a seguir. A média mundial foi de 65%.
A realidade no Brasil
No Brasil, uma pesquisa sobre saúde ocupacional revelou que os veterinários ocupam o primeiro lugar nas taxas de suicídio por ocupação, com uma taxa de 10,59, seguidos por trabalhadores agrícolas, policiais, farmacêuticos e motoristas de veículos.
Além disso, os veterinários lidam com a morte de seus pacientes cinco vezes mais do que qualquer outro profissional da área médica. Na maioria das vezes, são eles que conduzem a eutanásia dos animais, frequentemente devido à falta de acesso aos melhores tratamentos.
Fatores que contribuem para o alto índice de suicídios
Existem vários fatores que contribuem para os índices elevados de depressão e suicídio entre veterinários. Entre eles, destacam-se:
- Presenciar casos de abusos e maus-tratos animais.
- Realizar e indicar eutanásias de animais.
- Desgaste emocional por atender tutores que não têm condições financeiras de cuidar de seus animais.
- Lidar com tutores emocionalmente abalados e equilibrar a vida pessoal com a profissional.
- Enfrentar o sofrimento dos animais e dos tutores sozinhos.
- Baixo reconhecimento profissional e remuneração, aliados a longas horas de trabalho.
- Condições precárias de trabalho, como plantões solitários em instalações inadequadas, sem equipamentos ou apoio técnico adequado.
A “cobrança” pela dedicação dos veterinários
Uma questão muito séria é a cobrança social de que os veterinários devem trabalhar por amor. Contudo, muitos tutores acreditam que o veterinário deve atender os animais de graça e que é obrigação do profissional salvar todos os animais, esquecendo que a veterinária é uma profissão como qualquer outra, que exige remuneração justa. Embora a profissão seja vocacional, muitos veterinários gastam anos em cursos caros e devem arcar com suas despesas pessoais, além dos custos com seus estabelecimentos (aluguel, funcionários, impostos, água, luz, etc.). Embora o trabalho voluntário seja valioso, não pode ser cobrado de forma recorrente dentro dos locais de trabalho.
Desafios e dilemas éticos na profissão veterinária
A medicina veterinária lida com dilemas éticos complexos e conflitos de interesses entre diferentes partes (tutor, animal, saúde pública, sociedade). Portanto, a relação médico-paciente é única, pois o paciente não pode se expressar, opinar ou decidir, dependendo completamente dos outros. Esse cenário exige ainda mais compreensão e apoio aos profissionais da área.
A importância do reconhecimento da profissão
A profissão veterinária precisa ser mais reconhecida e respeitada. Veterinários que esteja passando por depressão e burnout devem ser acolhidos em comunidades de apoio e tratados com a consideração que merecem.
Portanto, devemos respeitar e valorizar os profissionais que são essenciais para garantir a saúde dos nossos amados pets e contribuem significativamente para saúde única (saúde humana, animal e ambiental).
Texto: Rosangela Gebara – Veterinária e Gerente de Projetos da AMPARA Animal.